Os negócios na economia 4.0
- Cesar Piorski
- 4 de jul. de 2023
- 2 min de leitura
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O historiador Yuval Harari, ao analisar o impacto da automação na sociedade, conclui que "Em 2050, a nova classe social predominante será a dos inúteis”. Com efeito, estima-se que no Brasil, até o ano 2030, pelo menos 50% da força de trabalho será substituída por robôs, ao mesmo tempo em que se estima que pelo menos 130 mil novos postos de trabalho serão criados no mundo todo.
Desde o século XVIII o mundo experienciou três revoluções industriais, sendo a primeira baseada no vapor, a segunda, baseada na energia elétrica e no petróleo e a terceira baseada no desenvolvimento de eletrônica e informática. Atualmente, estamos a vivenciar a quarta revolução industrial, baseada na convergência e combinação de tecnologias biológicas, físicas e digitais, dando origem a inteligência artificial, internet das coisas, nanotecnologia, impressão 3D, bio insumos, dentre outras tecnologias de amplo uso comercial. Apesar de apresentar-se em diferentes bases tecnológicas o elemento impulsionador a todas as revoluções industriais não foi outro senão a necessidade de reversão de uma tendência decrescente da taxa de lucro.
Curiosamente, todo este cenário foi antecipado pelo filósofo, sociólogo e economista, Karl Marx ainda em 1867, em seu livro “O Capital”. Marx identificou muito bem o fenômeno da tendência decrescente da taxa de lucro e a inevitável substituição de trabalhadores por máquinas como forma de revertê-la. Entretanto, esta reversão ocorreria às custas de um aprofundamento das contradições do modo de produção capitalista , cuja materialização ocorreria na forma de crises econômicas, recessões, elevado número de quebra de empresas, desemprego em massa, crises financeiras, aumento da concentração de renda, e acentuada polarização social, tudo isso favorecido por ciclos de negócios cada vez mais curtos. Entenda-se a crise como uma correção de excessos, com o agravante que tais excessos não são expurgados do sistema econômico, mas tornam-se o rejeito dele, ali permanecendo por longos e incontáveis períodos.
Assim, a economia 4.0 traz em seu bojo uma falsa abundância, em que haverá excesso de oferta de empregos e pouca gente habilitada a ocupá-lo, haverá excesso de capital e poucas ideias de negócios rentáveis, haverá excesso de novos negócios e poucos negócios resilientes, haverá excesso de acumulação de capital e pouca gente com acesso ao capital.
Nesse sentido, na economia 4.0, o maior desafio para o empreendedor será desenvolver modelos de negócios lucrativos e resilientes face a intensa concorrência submersa em um ambiente econômico hostil. Para o trabalhador, o maior desafio será manter-se habilitado junto a uma tecnologia que se desenvolve exponencialmente e com vida útil cada vez menor. Para os governos, o maior desafio será proteger os cidadãos, atenuar correções de ciclos econômicos, promover políticas públicas eficazes, antecipar necessidades futuras dos cidadãos e tributar uma economia cuja base produtiva reconfigura-se numa frequência cada vez maior.
Por tudo isso, na economia 4.0,será bastante comum odiar o mercado e ficar cada vez mais preso a ele, odiar o governo, e precisar cada vez mais dele, repudiar os tributos e ser cada vez mais achatados por ele, repugnar os inúteis e conviver com o número crescente deles. Eis o mundo 4.0, compreendê-lo adequadamente é a melhor maneira de tirar proveito desta nascente, contraditória, assustadora e promissora revolução.

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